O vinho sul africano combinam a elegância do Velho Mundo com o sabor e a intensidade do Novo Mundo. Há, até mesmo, quem diga que é difícil enquadrar a África do Sul no contexto Velho Mundo vs. Novo Mundo, seja pelo estilo da viticultura seja pela idade de seus vinhedos.
Seus vinhos são elegantes e, ao mesmo tempo, potentes. Não é por outra razão que a África do Sul é um dos grandes destaques do mundo do vinho da atualidade.
E nem pense que o país se resume a uva pinotage! Longe disso. A seguir, discorremos um pouco a respeito da história do vinho na África do Sul, depois destacaremos as principais regiões vitivinícolas e, ao final, como de praxe, daremos algumas sugestões de bons vinhos sul africanos para o seu dia-a-dia.
Se quiser ir direto para as sugestões, clique aqui.
História do Desenvolvimento do Vinho na África do Sul
Descoberta por volta do ano de 1500 por um navegador português, a África do Sul sempre se destacou mais que os demais países africanos, tanto por razões históricas e geográficas, quanto por razões econômicas. Geograficamente e historicamente, destaca-se por estar localizada em ponto estratégico das rotas marítimas do século XV; economicamente, destaca-se em razão da descoberta de minas de diamante e de ouro no século XIX. Considerando tanto fatores positivos, parece claro o motivo pela qual a colonização da África do Sul foi muito disputada pelos europeus.
E por causa da colonização europeia que o interesse em produzir vinho apareceu.
O vinho sul africano surgiu por volta de 1650, quando o Comandante Jan Van Riebeek mandou trazer mudas de vitis vinífera da França. Seu sucessor, Simon Van der Stel, deu inicio à viticultura na região de Stellenbosch, região que hoje é a mais famosa pela produção de vinhos na África do Sul. Nessa mesma época os colonizadores também começaram a cultivar vinhedos na atual região de Constantia.
Apesar do bom desenvolvimento das vinícolas, o século XIX foi marcado por alguns eventos que praticamente arruinaram a indústria vinícola da África do Sul:
- Primeiro o fim das barreiras tarifárias britânicas para os vinhos franceses (imposta como represália à revolução francesa);
- A infelizmente famosa praga filoxera que, assim como na Europa, destruiu grande parte dos vinhedos sul africanos;
- A segunda guerra dos bôeres (colonos de origem holandesa e francesa), que opôs os bôeres ao exército inglês (que queria o controle das minas de ouro e diamante); e
- O excesso de produção e consequente brusca queda dos preços.
A fim de melhorar a péssima situação das vinícolas sul africanas, no início do século XX o governo subsidiou a criação de cooperativas com o intuito de estabilizar os preços dos vinhos no mercado interno e reduzir a produção por meio de um sistema de cotas que vigorou de 1957 a 1991.
As cooperativas resolveram alguns problemas, como a superprodução e a redução dos preços, mas criaram outros, como o fato de ter inibido o avanço da viticultura e o desenvolvimento da inovação tecnológica.
A situação melhorou efetivamente com a alteração no panorama político da África do Sul, especialmente depois da eleição de Nelson Mandela para a Presidência da República (em 1994).
lightbulb_outline | Curiosidade: O país investiu e ainda investe muito em tecnologia e, por isso, é muito procurado para fornecer mudas de videiras, pois são produzidas com avançados métodos de clonagem, o que as torna mais sadias e mais resistentes às pragas. |
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A partir desse momento a viticultura sul africana deslanchou. Em 2002, o país já exportava mais de 218 milhões de litros de vinhos (em 1991 o volume era somente de 28 milhões de litros). Isso mesmo, um absurdo não? E mais: de acordo com a OIV – Organisation Internationale de la Vigne et du Vin, a África do Sul é o oitavo maior produtor de vinho do mundo e o sexto maior exportador (dados de 2013).
Regiões Vitivinícolas e Principais Uvas
A localização da África do Sul é realmente prestigiada. Além dos fatores já mencionados, atualmente pode-se dizer que é a única área vitivinícola localizada entre dois oceanos: o Atlântico e o Índico.
A maior parte dos vinhedos, que estão concentrados na região sudoeste do país, tem, portanto, um clima mediterrâneo, com verões quentes e secos e invernos frios e úmidos e sofrem a influência do mar, o que favorece muito o desenvolvimento dos vinhedos.
As principais regiões vitivinícolas estão concentradas na região da Cidade do Cabo, que é coração da viticultura sul africana, tanto pela qualidade, quanto pela beleza da paisagem. Podemos destacar as regiões de Constantia, de Franschhoek e de Stellenbosch.
A região de Constantia, localizada a apenas 16 km da Cidade do Cabo, tem uma paisagem espetacular, pois é cercada pela cordilheira de que faz parte a Table Mountain (localizada na Cidade do Cabo). A região é famoso por seus vinhos de sobremesa, que agradaram muito o publico europeu. Atualmente, depois de um período de declive, a região está recuperando o prestígio com a produção de vinhos finos, especialmente os elaborados com as uvas Cabernet Sauvignon e Merlot.
A região de Stellenbosch, por sua vez, é a mais famosa da África do Sul. Assim como a região de Constantia, está próxima da Cidade do Cabo. Seus vinhedos estão distribuídos entre a montanha e o mar e, desde sempre, os produtores dessa região tiveram como meta a qualidade dos vinhos. Talvez seja por isso que a região tem muitas adegas privadas.
Os maiores destaques são para os vinhos tintos, como os elaborados com a Cabernet Sauvignon, a Pinotage (variedade quase exclusiva da África do Sul), Merlot e Shiraz, mas também produz excelentes vinhos brancos. Aliás, é da região de Stellenbosch que vem o Chenin Blanc da Reserva Familiar, vinho branco que ganhou o Concurso Mundial de Bruxelas em 2015 (safra 2013).
As uvas cultivadas na África do Sul
O país cultiva tanto as uvas tintas quanto as brancas.
Considerando as uvas brancas, o maior destaque é a Chenin Blanc, pois os sul africanos produzem um excelente vinho com essa uva que é considerando, por muitos, como um dos melhores vinhos brancos fora da região do Vale do Loire, na França. Além da Chenin Blanc, há cultivo de Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling (na África do Sul é chamada de Cape Riesling, Rhine Riesling ou Weisser Riesling).
Entre as tintas, destacam-se a Cabernet Sauvignon, a Shiraz, a Pinotage, a Merlot, a Cinsault, a Cabernet Franc e a Pinot Noir. A mais conhecida é a Pinotage, uva “criada na África do Sul”, originária de um cruzamento entre a Pinot Noir e a Cinsault (chamada localmente de Hermitage).
Apesar de ser muito famosa, a Pinotage é uma uva odiada por muitos produtores, pois é de difícil manejo e pode, facilmente, dar origem a vinhos de péssima qualidade. Felizmente os sul africanos aprenderam a lidar com esse novo tipo de uva e hoje há excelentes vinhos elaborados com essa variedade.
Por fim, além de tintos e brancos, a África do Sul também produz vinhos fortificados e espumantes.
lightbulb_outline | Curiosidade: Por causa de pressão dos franceses, na África do Sul o método pelo qual o espumante é feito não recebe o nome tradicional. O método champenoise é chamado de “Méthode Cap Classique – MCC” e o Charmat de “Tank Method”. |
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Fatos Relevantes sobres o vinho da África do Sul
Muitos críticos de vinhos elogiam os vinhos sul africanos e reconhecem o avanço da qualidade e do alta investimento em tecnologia e conhecimento.
Dentre os diversos críticos que enaltecem os vinhos sul africanos, pode-se dizer que um dos que mais estudaram esses vinhos foi Tim Atkin (link em inglês). O crítico inglês estudou a fundo a história, o desenvolvimento e tudo o que refere-se ao mundo do vinho na África do Sul e, em 2013, depois de várias visitas ao país, lançou seu report especial sobre os vinhos sul africanos.
Antes de começar, destacou 10 fatos que entende relevantes para entender a indústria do vinho sul africano. Confira a lista abaixo! E se quiser ler o relatório inteiro, clique aqui (em inglês).
- A indústria vinícola sul africana é uma das mais antigas do Novo Mundo;
- O número de vinícolas ainda está crescendo;
- A África do Sul é abençoada com uma nova geração de ouro de produtores de vinhos, muitos dos quais viveram e em diversas partes do mundo;
- A inspiração para muitos destes novos produtores de vinhos, especialmente para aqueles que se estabeleceram em suas próprias vinícolas, é Eben Sadie (em inglês), considerado por muitos como o mais importante produtor de vinho da região da Cidade do Cabo;
- Rosa Kruger (em inglês) também é uma das mais importantes figuras desta indústria;
- Os 100.568 hectares de vinhas são bem espalhadas geograficamente, o que permite aos produtores adotarem diferentes estilos, assim como cultivar distintas castas em suas propriedades;
- Outra grande mudança desde 1990 tem sido o aumento em direção aos vinhos tintos;
- Os vinhos brancos são melhores que os tintos, ao menos na visão dele;
- O caráter de “borracha queimada” que era característica dos vinhos tintos de antigamente diminuindo graças à combinação de clones sem vírus, viticultura e vinificação;
- A transformação da Rainbow Nation (termo usado para descrever a África do Sul pós apartheid), economicamente e socialmente é influenciada pelo desenvolvimento da indústria vinícola.
Algumas Sugestões de Vinho Sul Africano para o seu dia-a-dia
Vinho | Safra | Produtor | Tipo | Uva | Preço (R$) | Onde Comprar |
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Avondale Pinotage | 2012 | Avondale | Tinto | Pinotage | 99 | Vinhosite |
Porcupine Ridge Cabernet Sauvignon | 2013 | Boekenhoutskloof | Tinto | Cabernet Sauvignon | 116 | Mistral |
Danie de Wet Chardonnay Sur Lie | 2014 | De Wetshof | Branco | Chardonnay | 91 | Mistral |
Porcupine Ridge Sauvignon Blanc | 2014 | Boekenhoutskloof | Branco | Sauvignon Blanc | 86 | Mistral |
Klein Constantia KC Rosé | 2014 | Klein Constantia | Rosé | Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon | 96 | Grand Cru |
Klein Constantia KC Corte | 2011 | Klein Constantia | Tinto | Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc | 103 | Grand Cru |
Remhoogte Valentino | 2011 | Remhoogte | Tinto | Shiraz | 151 | Grand Cru |
Guardian Peak Merlot | 2010 | Guardian Peak | Tinto | Merlot | 102 | Vinci |
Neethlingshof Estate Collection the Six Flowers | 2014 | Neethlingshof Wine Estate | Branco | Assemblage | 139 | Wine |
J. C. Le Roux Méthode Cap Classique Brut | J.C. Le Roux | Espumante | Pinot Noir e Chardonnay (pouco) | 79 | Wine | |
Avondale Muscat Blanc | Avondale | Branco doce | Muscat de Frontignon Blanc | 102 | Vinhosite | |
Fleur Du Cap Chenin Blanc | 2015 | Fleur Du Cap | Branco | Chenin Blanc | 58 | Wine |
Neethlingshof Dry Rosé Merlot | 2015 | Neethlingshof Wine Estate | Rosé | Merlot | 73 | Wine |
Avondale Reserva Shiraz | 2011 | Avondale | Tinto | Shiraz | 99 | Vinhosite |
Informações atualizadas em setembro de 2016.
E você, conhece os vinhos da África do Sul? Tem algum outro interessante para nos indicar? Conte-nos nos comentários abaixo.